Procissão, música cuja composição é atribuída a Gilberto Gil em 1966, retrata a fé do sertanejo, castigado pela seca, que busca socorro em Deus, para que envie a tão necessária chuva para os seus rebanhos e plantações, e que, sob a ótica da exploração política da fé, temos que essas manifestações populares são muito prestigiadas pelos políticos que fazem promessas que não podem ou que muitas vezes nem mesmo pretendem cumprir, pois nesse contexto os problemas que afligem o povo são vistos como fatalidades que demandam soluções por parte de Deus, e não como consequências da inação das autoridades públicas.
Cidadão traz uma crítica social profunda onde o trabalhador se sente impedido de ter acesso aos bens produzidos pelo seu trabalho, situação materializada na música pelo empecilho em entrar no prédio que “ajudou a levantar”, e por sua filha não poder frequentar a escola que ele ajudou a construir, pelo fato de não possuir sapatos. Ademais, retrata a ilusão de que a migração do nordestino para outras regiões do país (ou de qualquer outro migrante/imigrante para outras regiões do país/mundo) poderia à época levar a uma vida mais digna, quando na verdade, em muitos casos, estariam bem melhor se permanecessem em seus locais de origem, apesar das dificuldades. O migrante então vê seu sofrimento mitigado pelo conforto espiritual vivido na igreja que entre os muitos edifícios que ele ajudou a construir, é o único no qual não lhe barram a entrada.
A crítica social em Toda Forma de Poder, por sua vez, nos leva a refletir sobre a manipulação das massas pelas ideologias que arrastam multidões e depois se cristalizam por meio da força bruta, a exemplo do Chile e de Cuba, capitalismo x comunismo. A música também retrata o conformismo social diante desses regimes e a manipulação da história que como sabemos é “contada pelos vencedores”.
O ensinamento que podemos tirar dessas músicas é de que se faz necessário que tenhamos uma visão social mais crítica, de modo a podermos enxergar as injustiças sociais e a manipulação política/ideológica e não ficarmos indiferentes a elas.
Qual/quais música(s) você escolheria para apresentar/debater algum tema em sala de aula com estudantes da 4ª série do Ensino Fundamental? No seu entendimento, como seria a aula?
Eu escolheria a música Procissão, de Gilberto Gil. Minha abordagem do tema se daria em cinco momentos:
1º – Por meio de reportagem, preferencialmente em vídeo, contextualizar a questão da seca dos anos 60 no nordeste brasileiro, que pode inclusive ter motivado alguns dos avós dos estudantes a migrarem para Brasília.
2º – Apresentar videoclipe da música e distribuir a letra impressa para os estudantes e discutir com eles o significado dos versos, destacando que a fé é importante para sustentar a esperança das pessoas nos momentos de dificuldade, mas precisa se traduzir em gestos concretos para que nossos pedidos a Deus se realizem.
3º – Exibir reportagens da produção atual de café, uvas, morangos, enfim, produtos normalmente produzidos em regiões frias, que atualmente são produzidos em estados daquele mesmo nordeste brasileiro que parecia condenado pela seca, destacando como medidas adotadas ao longo dos anos conseguiram mudar aquela realidade.
4º – Pedir aos estudantes que façam um levantamento junto a seus pais/responsáveis de quais problemas de natureza pública afetam suas famílias e comunidades.
5º – Em aula subsequente, a partir das Listas elaboradas pelos estudantes, orientar a turma para a elaboração de uma Lista em comum, abordando os problemas e possíveis soluções a serem adotadas pelo poder público.
Vocês perceberam/sentiram pontos/temas em comum entre algumas músicas? Quais?
Poderíamos relacionar as músicas Believer, do Imagine Dragons, e The Story's Not Over, do Jeremy Camp, que trazem reflexões de foro íntimo dos personagens sobre o sofrimento enfrentado ao longo da jornada da vida, aos quais o significado atribuído pode ter implicações indiretas no modo como grande parcela da humanidade acata a exploração da fé com objetivos políticos.
A letra de Believer mostra que as dores que vivenciamos ao longo da vida podem ser fonte de aprendizagem. Isso sob a ótica das religiões pode ser visto por, pelo menos, duas perspectivas: (1) as dores nos são impostas para que possamos aprender por meio delas, o que remete o Sagrado a uma “pedagogia do sofrimento”, cujo uso político foi bastante evidente no movimento da Inquisição ocorrido na Europa e nas Américas entre os séculos XII e VXIII; (2) as dores, assim como as alegrias, fazem parte da vida, mas podemos tirar ensinamentos delas e, nessa perspectiva, o Sagrado nos sustenta e nos ajuda a superar os momentos difíceis da vida. Embora a música não faça referência ao Sagrado, os versos demonstram que, na perspectiva do autor, foi por meio da dor que ele aprendeu a resiliência, acreditando em si mesmo.
The Story's Not Over retrata um personagem que, embora não se refira diretamente a Deus, afirma a sua fé de que o longo caminho de lágrimas que tem percorrido não será em vão, mas que tem um propósito que só Ele conhece e será revelado no futuro. Embora a letra seja um exemplo da resiliência proporcionada pela fé, é importante termos em mente que esse “destino manifesto”, que podemos depreender da letra, pode ser utilizado por líderes políticos e religiosos mal-intencionados tanto para justificar a própria ascensão ao poder, quanto o infortúnio do povo.
TEF 0006 Cinema Música Literatura