Rubem Alves classifica as escolas em duas categorias, as que são gaiolas e as que são asas. As primeiras aprisionam seus estudantes, reduzidos a alunos, ignoram seus saberes, suas expectativas e limitam-se a ensinar apenas o programa oficial e, nesse contexto, até uma disciplina de educação artística, consegue ignorar os dons artísticos dos estudantes. A segunda categoria, vê no próprio estudante o melhor caminho para o ensino e a aprendizagem do programa: “Escolas que são asas [...] Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado”. Sendo assim, considero que a principal mensagem do autor é que precisamos ensinar a partir das vivências e expectativas dos estudantes. Desse modo, o programa oficial fará sentido e as crianças e jovens não passaram anos se perguntando: “Pra que eu tenho que estudar isso?”.
Crédito da imagem: Pinterest. Disponível em: br.pinterest.com/pin/16044142409341378/ . Acesso em: 12 jul. 2025.
O medo de ser livre provoca o orgulho em ser escravo
A principal mensagem da Crônica de Moraes, na minha opinião, é que o hedonismo, ou seja, a busca pelo prazer e a negação da dor, cada vez mais presente em nossa sociedade, leva a nos tornamos escravos na nossa zona de conforto, mesmo que essa seja extremamente desconfortável, porém segura. Um bom exemplo é o quanto somos doutrinados a sacrificar nossa saúde e a convivência familiar para se manter nesse ou naquele emprego. Certa vez, numa palestra motivacional, o palestrante deixou como uma reflexão ao final da palestra: “Passamos a vida fazendo malabarismo com três bolas. Uma de borracha e duas de vidro. Essas bolas são a família, a saúde e o emprego. Qual delas é a bola de borracha?”.
Quais aspectos você considera estarem presentes seja na Crônica de Alves, seja na de Moraes?
Considero que a singularidade dos seres humanos é o principal aspecto presente em ambas as crônicas e nos levam a refletir sobre autoconhecimento e o reconhecimento da singularidade do outro como ponto de partida para a construção de uma sociedade mais justa e verdadeira, seja por meio do ensino nas escolas, seja na condução da nossa própria vida:
sofri conversando com professoras de segundo grau, em escolas de periferia. O que elas contam são relatos de horror e medo. Balbúrdia, gritaria, desrespeito, ofensas, ameaças […] . Ouvindo os seus relatos, vi uma jaula cheia de tigres famintos, dentes arreganhados, garras à mostra e a domadoras com seus chicotes, fazendo ameaças fracas demais para a força dos tigres […]. A porta de ferro que fecha os tigres é a mesma porta que as fecha com os tigres.
“[…] por mais que a escravidão seja ressignificada, fantasiada e ‘transformada’ em liberdade, sempre haverá pontos em que o indivíduo sentirá necessidade de alçar voos mais altos, os quais, obviamente, não poderão ser realizados, haja vista a limitação das gaiolas, o que implica a insatisfação, ainda que tardia, da condição escrava em que o indivíduo se encontra.
Quais aspectos das Crônicas de Alves e de Moraes você considera estarem relacionados com a Alegoria da Caverna/Platão/Sócrates?
Platão/Sócrates retratam em sua alegoria, homens que veem a vida passar diante de seus olhos por meio de sombras manipuladas e projetadas na parede da caverna. Podemos considerar que na crônica de Alves essa caverna está representada pela escola e na crônica de Moraes pela ilusão de liberdade daqueles que se conformam com as coisas como elas são, sem nunca questionarem se poderiam ser melhores. No primeiro caso, aqueles que contemplam as sombras são representados pelas professoras citadas por Alves e no segundo caso podem ser representados por qualquer um de nós que se enquadre no conformismo descrito por Moraes. Na alegaria da caverna aquele que se atreveu a enxergar além dela é penalizado pelos demais. Nas crônicas esse “visionário” está representado pelos adolescentes de periferia e por aquele que vier a perder o medo de ser livre e não mais se conformar em deixar que as coisas continuem como sempre foram.