Resenha. Livro: WANDERLEY, Luiz Eduardo W. O que é Universidade? São Paulo: Brasiliense. 2003.
"Fracassei em tudo o que tentei na vida.
Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.
Tentei salvar os índios, não consegui.
Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.
Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei.
Mas os fracassos são minhas vitórias.
Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu."
Darcy Ribeiro
No livro O que é Universidade o autor Luiz Eduardo W. Wanderley retrata, brevemente, em oito capítulos a história e formação da universidade, bem como sua cultura, finalidades, papel na sociedade e estrutura. Indaga ainda se a autonomia da universidade seria um mito ou realidade.
O autor inicia o livro apresentando várias visões externas e internas a respeito da universidade. Alguns a vêem como um lugar apropriado para criação e divulgação de conhecimento, com a finalidade de formação de profissionais de nível superior. Há também aqueles encaram a universidade como uma ferramenta de formação social capitalista, de formação elitista e garantidora da permanência da classe dominante ideológica e politicamente. Há também aqueles que acreditam que a universidade já se tornou algo obsoleto e sem função alguma, necessitando de uma total reforma ou extinção.
No decorrer do primeiro capítulo o autor retrata rapidamente a história da universidade, apontando o ano e quais foram as primeiras universidades européias e latino-americanas. Ressalta o aspecto conservador e teológico que as universidades tinham nos primeiros séculos de sua existência, assim como sua função de formar uma elite aristocrática. Fala também do desenvolvimento das universidades na América Latina e no Brasil, que se espelharam mais nos modelos franceses de universidade.
Nos próximos capítulos Wanderley conta como se deu o movimento reformista da universidade, citando o “Manifesto de Córdoba” logo de início e todas suas conseqüências ate a chegada dos acontecimentos na América Latina. Ressalta com ênfase as mortes e prisões que aconteceram nesse período e lembra o surgimento de mártires universitários em todo continente americano.
Logo em seguida aborda aspectos culturais, pois, segundo ele, é na universidade que o indivíduo entra em contato com a cultura universal de forma sistemática. Nesse mesmo capítulo o autor critica uma das características do capitalismo que é sua dominância pela imposição da sua cultura, generalizando suas relações, estruturas e processos, o que atinge também a universidade, como argumenta Wanderley: “Se esta cultura domina as mentes e as ações da população em geral, ela vai atingir também a universidade e as atividades dos cientistas, negando a tese da ciência neutra”.
Na sequência, Wanderley apresenta a finalidade da universidade no âmbito da pesquisa e formação tecnológica. Fala da extensão da universidade tanto em nível mundial quanto latino-americano. Argumenta também sobre o papel do professor dentro da universidade, abordando também a história desse papel. O autor argumenta sobretudo a respeito do papel do estudante na universidade, enfatizando suas lutas a respeito do aumento das taxas de egresso ou então a contenção delas. Uma parte importante no seu discurso é a respeito dos vestibulares “que originaram um sistema comercial com verdadeiras ‘guerras’ competitivas entre si” com o surgimento dos “cursinhos” de preparação. Ainda reserva um espaço no capítulo para falar sobre os funcionários da universidade, cujo papel que desempenham ganhou maior destaque ao longo do tempo.
Nos capítulos finais ele nos passa uma breve história do sistema hierárquico da universidade, desde a cátedra ate o departamento. Explica todas as relações de poder e ainda nos passa uma opinião pessoal de que a universidade deve “ter direito a defender idéias e formas de atuação divergentes das assumidas oficialmente pelas diversas instâncias”.
No penúltimo capítulo do livro o autor levanta uma questão polêmica a respeito da autonomia da universidade. Sem ter um posicionamento pessoal a respeito da questão, ele nos explica como funciona e cita também as cinco dimensões dessa autonomia: administrativa, financeira, didática, técnico-científica e política.
Wanderley conclui o livro enfatizando novamente a importância da universidade e a necessidade de avanço constante desde questões como desperdício de verbas, falta de infra-estrutura, rigidez estrutural e carência de recursos humanos. Termina com uma visão positiva da universidade brasileira no sentido de vencer vários obstáculos pelos quais passava à época e tem um pensamento otimista visando chegar a um futuro de “desenvolvimento democrático para o país”
O livro todo é de uma leitura leve, prática e breve. A linguagem é de fácil entendimento e conta constantemente com vários exemplos acerca de todos os argumentos que o autor levanta. Durante toda a obra Wanderley procura mostrar os aspectos mundiais da universidade, geralmente focando na Europa e logo após nos apresenta os mesmos aspectos que ocorrem na América Latina e no Brasil. É um livro de fácil entendimento e bastante direto no que propõe passar.